James Farm
James Farm
CD Nonesuch 2011

Ao contrário do que é comum no Jazz, James Farm não é o grupo de um músico, mas um colectivo onde todos contribuem com a composição e a exploração de igual forma. Não se trata propriamente de democracia, mas de um genuíno colectivo firmado sobre um propósito: construir Jazz sobre quatro personalidades. E elas são tão distintas quanto o podem ser: Matt Penman é neozelandês e estudou na Berklee, Joshua Redman é filho do lendário Dewey Redman, nascido na Califórnia, Aaron Parks nasceu em Seattle e estudou em New York e Eric Harland é um texano que estudou música e teologia. As suas influências dispersam-se entre a música pop e o rock, o funky e a soul, a música clássica e as músicas étnicas de todo o mundo.
Há algo da estética do San Francisco Jazz Collective (SFJC) em James Farm onde a identificação do Jazz é óbvia, na premência rítmica e numa espécie de obsessão por formas estruturadas, e afinal na solidez (que poder-se-ia criticar de excessivamente escolástica) dos músicos. Mas James Farm é, diferentemente dos SFJC, um grupo de jovens compositores (entre os 28 e os 42 anos) que, sem o espartilho da necessidade de trabalhar sobre autores e standards, traz para o colectivo influências exteriores numa modernidade doseada e contida.
O disco de estreia de James Farm revela uma das duplas rítmicas mais dinâmicas do Jazz contemporâneo: Eric Harland e um sólido e diligente Matt Pennan. Ainda assim, raramente somos surpreendidos: tudo é relativamente previsível nas estruturas que Harland e Penman constroem, e apenas no tema contributo de Harland, talvez o melhor momento do disco, “I-10”, o baterista surpreende no alucinante som que retira da bateria. O terceiro membro da secção rítmica, Aaron Parks, é o maior contribuinte das formas melódicas, generoso e lírico (belíssimo “Low Fives”), oferecendo ao saxofone de Joshua Redman alguns dos seus melhores momentos de sempre.
James Farm pratica uma música onde a sinceridade está presente: eles não procuram propriamente inovar, mas apenas criar e tocar, dentro de uma forma que é inequivocamente, perigosamente, Jazz. Tocar Jazz sem pretensões é hoje em dia um risco, parece, mas para já é apenas isso que estes quatro grandes músicos querem fazer.

Joshua Redman (st, ss)
Aaron Parks (p, f-r, or, tec, voz)
Matt Penman (ctb, assobio)
Eric Harland (bat, voz)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #14)